domingo, 16 de agosto de 2009

ZÉ PRETO PARANÁ

O FETICHE DOS SAPATOS FEMININOS
A ex-primeira-dama, mulher muito vaidosa em público, mas no particular doméstico exageradamente econômica (ou, como se diria aos íntimos: munheca de samambaia), ordenou a seu valido, de apelido Zé Melado, fazer uma arrumação em regra no casarão onde moravam, iniciando pelos trastes e cacarecos do porão e quintal, passando-se pela cozinha, despensa e resto da casa, excluídos dessa providência, naturalmente, a sua própria pessoa e a do seu distinto esposo, recomendação que se fazia necessária de vez que o empregado sempre tomava ao pé da letra as ordens recebidas por parte da patroa.
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E foram amontoando no terreiro as tralhas, bruacas, esteiras, empanadas, pelegos, trapos de cortinas, cobertores desfiados, roupas velhas, vasilhas enferrujadas, cadeiras quebradas, bacias remendadas e quase tudo que havia dentro daquele museu de inutilidades.

O pobre rapaz, muito bem mandado, estava visivelmente assustado e curioso, ao mesmo tempo, diante daquela tamanha trabalheira e indagando, a si próprio, qual o fim que daria àquele considerável entulho, antes que a dona resolvesse que tudo voltasse a ocupar novamente as gavetas, os armários, a despensa e os quartos que, na verdade, ao serem desocupados, fazia parte do projeto dela de transformá-los em quartos para hóspedes, com a finalidade de engordar, ainda mais, as diversas cadernetas de poupança que mantinha na Minascaixa, cuja agência ficava logo ali ao lado.

E no propósito de arranjar mais um cantinho para mais uma cama, foi despejando quinquilharias, antes guardadas como tesouro, naquele monturo que foi-se formando entre a cobertura do forno e o cercado do galinheiro, até que chegou a vez dos babilaques, revistas forenses, súmulas desatualizadas e velhos compêndios de latim há muito entregues à sanha das traças, bem como uma estante tomada de vários pares de sapatos femininos, de todos os modelos e cores.

Deparando-se diante destes antigos mimos, a velha dama quedou-se e se pôs a lembrar dos tempos áureos em que aqueles lindos objetos, que eram seus presentes prediletos, constituíam-se em moeda de troca que impunha a todos que lhe solicitavam favores, no deslinde de seus interesses junto ao fisco municipal, no rateio de sinecuras e na distribuição do poder administrativo do marido frente à municipalidade.

Tempo bom, aquele pretérito recente, de vacas gordas, roças fartas e cofres cheios!

Tudo porém era diferente e a safra de votos já não era muito favorável ao curral eleitoral da casa grande e o remédio era consolar com as lembranças e cuidar de segurar o que restou daquele tempo de fartura e facilidades.

E a sovina dama, do alto do alpendre, observando cada passo do criado, o que ia cumprindo à risca a sua determinação, atirando ao forno cada objeto descartado, mandou-o imediatamente que poupasse os seus antigos calçados, pois aqueles eram como se fossem troféus e que gostaria de conservá-los.

Num ímpeto de apego àquelas relíquias, juntou-os e os acondicionou, novamente, dentro de um grandc jacá, do qual haviam despejado mais de centenas de garrafas vazias.

Eram, contudo, sapatos fora da moda que jamais seriam aproveitados para calçar aqueles seus pés, sempre tão altivos, que tanto já pisaram, no tempo de glórias, na dignidade e no atrevimento de seus desafetos e também naquela gente chinfrim da cidade que ela tanto detestava e tudo fazia para explorar e extorquir.

A antiga arrogância, que também não conseguia lançar ao forno da iniqüidade, permitia à megera uma força magnética, como a obrigá-la ao resgate daquele lote de sapatos velhos.

Sentia a necessidade extrema de restaurá-los, dar-lhe novos brilhos aos cabedais, com o reforço de novas palmilhas, solados e saltos, o que lhe exigiria gastar uma boa grana, se acaso dispusesse tê-los como novos.

Foi justamente neste momento que lhe ocorreu a idéia de mandá-los ao sapateiro, no que poderia matar dois coelhos com uma única cajadada ou, como era de seu gosto, matar a fome com a vontade comer: há mais de ano e um dia que um de seus locatários, ocupante de um casebre na Rua Direita, ali se instalara com sua tenda de remendão, alegando sempre falta de serviços na tentativa de justificar a contumaz inadimplência, o que de fato era uma realidade da qual ela, como insensível às mazelas sociais, pouco se importava com as razões de quem nada faturava naquela praça onde quase toda a população andava com os pés descalços, pouco havendo de se fazer o oficial que dependesse do resultado de reformar calçados inexistentes, onde poucos cidadãos, como seu ilustre cônjuge, é que podiam se dar ao luxo de andar com os pés protegidos naquelas ruas escuras, sujas e esburacadas.

Contudo, aluguel é aluguel e quem tem casa pra alugar tem por obrigação cobrar o que lhe é devido, nem que seja através de serviços prestados, o que assim estaria de bom tamanho para ambos.

E assim pensado, assim foi que despachou o diligente Zé Melado em direção à tenda do sapateiro, seguindo o mesmo que ia como um burro de carga levando na cacunda o pesado jacá com os ex-preciosos pares de sapatos que um dia desfilaram pelas ruas da cidade despertando a admiração dos homens e a inveja das mulheres de pés rachados, as quais, sob a ótica desprezível daquela anta, não mereciam nem mesmo lamber o chão por ande pisavam aqueles soberanos pés.

Foi logo chegando na sala do casebre, misto de residência e de oficina, entrou com ares de proprietária, ordenando ao Zé Melado que despejasse a carga no meio da loja e que o remendão desse início imediato naquele trabalho que ela desejava fosse sem muita demora.

E o pobre do remendão, refeito do susto da visita e diante da proposta, ou melhor, da exigência, avaliou que aquela poderia ser a oportunidade de, além de saudar a dívida da locação imobiliária, também tirar algum proveito, mesmo que fosse para a propaganda de seu ofício, na esperança de atrair novos fregueses, pelo que haveria de empregar, naquela tarefa, o máximo de dedicação e arte, tendo para isto que comprar o material necessário e até mesmo contratar auxiliares para dar conta de todo aquele recado.

E o que antes era um marasmo, de repente se transformou numa tenda onde o trabalho nunca terminava, varando pelo dia e atravessando altas horas da noite, vendo-se sempre ali a luz acesa para que o serviço fosse realizado conforme a encomenda, o que não passou despercebido ao marido da referida senhora, embora lhe fosse desconhecida a causa da animação que ali era por todos observada.

Mandou, assim, o ex-prefeito, uma carta de cobrança dos referidos alugueres atrasados que, segundo suas expectativas, poderiam agora, com o positivo faturamento da tenda, serem finalmente quitados pelo devedor.

- Meu caro amigo Zé Preto: Não vejo, no momento, como se negará de pagar-me, enfim, as locações de meu imóvel, o que intimo fazê-lo, sem mais tardar, esperando recebê-lo, incontinente, aqui em meu gabinete para tratarmos sobre os termos de um novo contrato, sob pena de determinar, de imediato, o seu necessário despejo.

Ao que foi providenciada a resposta, pela pena de um advogado amigo do sapateiro, desafeto do coletor, para que este, nas entrelinhas, certificasse de que estava bem patrocinado aquele que julgava inadimplente:

- Certamente, prezado amigo senhorio e diligente locador, que lhe devia e meu dever seria o de lhe pagar, não fosse já estar empenhado a quitação dos alugueis vencidos, em razão do serviço já prestado, encomendado que foi por ordem de sua esposa, referentes 65 pares de sapatos diversos cujo restauro já se encontra executado, estando todos, perfeitos, à sua disposição, posto que tem sido o meu trabalho neste último mês, sempre no intuito de ver quitado, como de fato já o tenho, este que foi o nosso compromisso.

O que era determinado pela ex-dama, desde o feliz tempo em que era a primeira-esposa, nunca era ela contestada pelo marido e ele, pacificado e assim conformado, sempre muito cuidadoso para não melindrar-se conjugalmente, temeroso de ferir sucescibilidades em relação a seus segredos de homem galante e aventureiro, deixou como resolvida aquela questão, ao tempo em que, arrefecido o desejo da mulher em ter renovados tantos pares de calçados que lhe seriam supérfluos, também não os foi receber de volta, ignorando-os entre as demais bugigangas do remendão.

Com o passar do tempo Zé Preto viu-se na obrigação de dar destino àqueles vistosos sapados, que em sua vitrine eram cobiçados mas dos quais não podia desfazer, até que, por considerar como finalmente ignorados pela dona, resolveu doá-los.

Escolheu, então, diferentes e variadas beneficiadas com aqueles mimos e ele próprio fez questão de fazer a entrega, a cada uma delas, como se fosse presentes mandados, a cada uma, pelo mulherengo esposo da ex-dama.

Chegado o mês de junho, no dia da missa solene da Festa do Rosário, foi com a maior admiração de quem estava no largo da igreja, no desfile da procissão, que a cidade viu, só que em diferentes pés, aqueles conhecidos sapatos, que antes adornavam os pés mimosos da primeira-dama, agora enfeitando os pés rachados de diferentes e secretos amores do velho alcaide, o qual, sem muito o que fazer, ainda agradeceu ao amigo “Paraná”, seu principal confidente, por aquele admirável gesto de amizade, senso de oportunidade, desprendimento, caridade e bom gosto.

E tudo ficou como dantes, e ninguém mais falou em cobrança ou em sapatos reformados, naquele antigo sobrado dos Abrantes.


Zé Preto Paraná, além de sapateiro, foi um grande repentista e animador de bailes onde se apresentava, com seu característico chapéu verde com uma peninha vermelha na fita, seu sorriso enfeitado com um enorme dente de ouro, ao ritmo do seu inconfundível pandeiro, cantando sem microfone as suas rancheiras que enchiam de alegria o Salão de Molas, o “CRIM de Zé Bustika, o carnaval do “Pernil” e os forrós do Clube Popular.

Mais uma de nossas figuras populares que se juntam, lá no céu, a tantos outros, como João da Rocha, Berola, Zé de Chico Tropeiro, Rodolfo Gomes, Zé de Maria Loura, Moreira, Militão, Gabriel Borges, Gentil de Santa, JB Fernandes, Artur Quirino, Plínio, João Batista, Wagner, Sargento Leão e muitos que tanto contribuíram, com o talento e a arte musical, para fazer de nossa terra um lugar QUE ERA tão feliz e agradável de se viver.



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terça-feira, 11 de agosto de 2009

O PERIGO DE UMA RATOEIRA EM CASA

Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote.
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Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali.
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Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.

Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos :

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!

A galinha, disse:


- Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me incomoda.

O rato foi até o porco e lhe disse:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!

- Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces.

O rato dirigiu-se então à vaca.

Ela lhe disse:


- O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!

Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro.

Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima.

A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia caído na ratoeira. No escuro, ela não viu que a ratoeira havia prendido a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher...

O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha.


O fazendeiro pegou seu cutelo (pequeno facão) e foi providenciar o ingrediente principal.

Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco.


A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o funeral.

O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo..

Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.

"O problema de um, é problema de todos quando convivemos em equipe"

REFLETINDO ...

Um homem havia pintado um lindo quadro.

No dia de apresentá-lo ao público, convidou todo mundo para vê-lo.

Compareceram as autoridades do local, fotógrafos, jornalistas, enfim uma multidão.
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Afinal, o pintor além de ser um grande artista, era também muito famoso.
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Chegado o momento, tirou-se o pano que velava o quadro. Houve caloroso aplauso.
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Era uma impressionante figura de Jesus batendo suavemente a porta de uma casa.

O Cristo parecia vivo.

Com o ouvido junto a porta, Ele parecia querer ouvir se lá dentro alguém respondia.

Houve discursos e elogios. Todos admiravam aquela obra de arte.

Porém, um curioso observador, achou uma falha no quadro. A porta não tinha fechadura.

Intrigado, pergunta ao artista:

- Sua porta não tem fechadura!
Como se fará para abrí-la ?

- É assim mesmo.
Respondeu-lhe o artista
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- Esta é a porta do coração humano...
- Só se abre pelo lado de dentro.

MINAS NOVAS - TERRA DE DOIDO

Viajando pela WEB tive a grata satisfação de ler um artigo, assinado pelo jovem SAMUEL GOMES FERNANDES, que é sobrinho de Fernando Fernandes Filho (nosso assíduo leitor), neto, portanto, do nosso bom e dileto amigo Fernando Fernandes, este que é, por sua vez, tio do meu ex-colega de BB Fernando Fernandes Sobrinho (*).

Trata-se de um interessante trabalho escolar em que o referido aluno, de forma brilhante, faz uma completa retrospectiva sobre figuras populares de nossa cidade, com o título de “MINAS NOVAS, TERRA DE DOIDO”, o qual transcrevo abaixo:

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“24/11/2008
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Minas Novas - Terra de doido.

Todos dizem que minha cidade é terra de doido.
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Minha cidade tinha muitos doidos, contou-me vovô.
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Cada doido mais doido e com suas manias, suas esquisitices.
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E vovô fala-me de cada um com tanto carinho, que dá vontade de conhecer Bastiana Doida, Bastiana Mingau, Onofre, Zezé Reverth, Biela, Varistinho, Rita Pezinho, Modesto e tantos outros que povoam a imaginação do povo daqui.
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Todos doidos, mas doidos mansos, boa gente!
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Vovô falou de Modesto - de poste em poste - batendo e ouvindo.
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Ouvia sons imaginários e repetia-os a quem quisesse ouvir, cantando cantigas doidas e desatinadas.
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Lembrou-se, também, de Bastiana Mingau, preta velha e forra que vivia em companhia do compadre seu.
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E demos muitas risadas, quando vovô disse que Bastiana rezava, gritava e chorava entre tosses, risos e peidos.
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Que vontade de ter vivido a infância de vovô para ter conhecido Mestra Biela - culta, violonista, professora - que filosofava sobre política municipal dizendo que chegaria o dia de cair os muros e subir os monturos.
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Vovô disse que se arrepiava diante de tão louca lucidez.
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E Onofre?
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Repetidor de frase conhecida até pelas ruas e becos da cidade:
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-"Encher 'pó' é 'ieu', fazer ‘chichimia’ é os 'oto' ".
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E vovô disse que ainda sou criança para entender o que é "fazer chichimia". Um dia eu aprendo. . .
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Vovô contou-me a história de Rita Pezinho que era o terror da criançada e sentava-se nos degraus do Rosário e passava horas quieta, até que a "capetada" viesse lhe perturbar.
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Aí, então, Rita descia o pau!...
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Vovô falou das ilusões de Rita - que sonhava ver crescer seu pezinho, devorado pelo fogo, o que rendeu seu apelido e a fez conhecida por mais um ditado popular da cidade:
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"Oh! Ilusão de Rita Pezinho"! (Ditos a qualquer um que sonha sonhos doidos.)
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Vovô falou de Varistinho - doidinho por sinos de igreja e também de Zezé Reverth, doido, mas que carregava sonhos grandiosos, de dizer e se achar um nobre, vindo da França - em uma nau, que segundo vovô era um barco grande que fazia viagens intermináveis de um país a outro.
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Pobre Zezé! Como devia sofrer!
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Comoveu-me a triste história de Manoel Rabicó, doido menino que vivia na rua, sujinho que só ele.
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O doidinho tomou banho uma vez na vida, dado pela polícia, nas águas do Fanado, por ordem do prefeito, que lhe pôs bota, gravata e roupa limpa, depois disso Rabicó subia e descia ladeiras dizendo:
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“- Neguinho hoje tá é penando!”
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E encantava a cidade que ria-se das peripécias do Neguinho.
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Essas figuras misturam-se em minha cabeça e me pus a sonhar com cada um e comparei-os em minha meninice, aos doidos de hoje, doidos bobos, sem graça, sem encanto e sem fantasia.
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É vovô!... nossa terra é terra de doido sim, mas eu queria mesmo era ser criança, junto com você, para conhecer as pessoas mais lúcidas de quem já ouvi falar: Os doidos de seu tempo de criança.
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Samuel Gomes Fernandes -
Aluno da 7ª série - E. E. "Dr. Agostinho da Silva Silveira" - MINAS NOVAS (MG)
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E a respeito disto tudo, digo eu:

Toda boa terra que se preza tem lá os seus doidos e ai de quem deles não os considerar, como merecem sê-lo, até porque nunca foram esses orates criaturas indesejáveis mas, ao contrário, verdadeiros anjos que passam a viver eternamente em nossas recordações.
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São eles figuras inolvidáveis, cheias de ternura, inocência e encantamento, como os são os demais santos, as fadas, os magos, os poetas, os pássaros que voam, os bêbados, as flores cheirosas, os músicos de bandas e os sacis.
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Dizem os mais entendidos que a palavra louco tem origem de “lokos” que no grego significa “lógico”.
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E é bem certo que, de filósofo e louco, todos nós temos um pouco.
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(*) Voltando aos “FERNANDOS”, tenho um primo, aqui mesmo em BH, que muito prezo, que se chama Fernando, filho de minha saudosa tia Amélia (Menininha de Zé Pequeno). Tenho, também, lá em Betim, um sobrinho que se chama Fernando, muito querido, sendo ele filho de Fira Marques e de Elisa Maria, minha irmã, esta que por sua vez é afilhada de batismo e fã incondicional de FERNANDO FERNANDES (filho do saudoso João Benedito Fernandes, mestre da banda de música "furiosa" Euterpe Conceição, lá de Minas Novas) o qual
, ao que me parece, pela sua amizade e simpatia, deu origem aos nomes próprios com os quais toda essa gente foi levada à pia batismal e assim se chama, em homenagem a sua mui querida e bem merecida figura de homem íntegro, bom, alegre, trabalhador e pai de família numerosa e exemplar, de quem todos querem muito bem, não somente no auspicioso município de Minas Novas, mas em todas as cidades de região, como Chapada do Norte, Leme do Prado, Turmalina, Jenipapo de Minas, Francisco Badaró, Berilo e, principalmente, na linda cidade de JOSÉ GONÇALVES DE MINAS, administrada pelo meu amigo prefeito Edson Lago de Souza (Maninho), município novo e progressista que fica às márgens da Barragem de Irapé e cujo topônimo, em homenagem a antigo morador do primitivo povoado, seria muito mais adequado e sugestivo se continuasse como GANGORRAS, por ser esta linda denominação pátria mais sonora, romântica, poética e histórica, pelo que aqui fica a minha esperança de doido, que os amigos gangorrenses, sensibilizados com este meu clamor, solicitem um plebiscito com o objetivo de se buscar a adoção do nome original dessa aprazível terra banhada pelo Rio Jequitinhonha.

Aliás, a comunidade de Gangorras tem na pessoa de "seu" Fernando toda uma justa consideração, de vez ser ele um festejado pioneiro, daquelas bandas gangorreiras, de Contendas, Bonito, Ribeirão do Altar, Vai-Lavando, Limeiras, Quilombolas, Tabuleiro, Fátima e tantos outros recantos encantadores, o desbravador e benemérito que o foi, nos idos dos anos de 1950, juntamente com o seu compadre JOÃO DE EVARISTO, este dedicado fazendeiro da região que é fabricante do especial e melhor requeijão moreno que já degustei em toda minha vida.

Cada doido tem sua mania.

-----------------------------------IDALINA SENA, a minha doce e inesquecível bisavó "Dadá"---------------

Isto já afirmava minha saudosa bisavó Dadá, do alto de sua sabedoria de quem, com muita razão, chegou com saúde à beira do centenário e que, apesar de nada ter escrito no decorrer de sua longa e santa existência, até porque era analfabeta graças a Deus, deixou-me muitas lições e memórias, que ela guardara de seu tempo e de sua gente, as quais ela me transmitia na sua simples oralidade, em razão do fato de que, por achar-me digno de sua graça e confiança, tornou-me o seu predileto interlocutor e principal ouvinte, possibilitando-me a ventura de não deixar que, nos tempos hodiernos (como diria o mestre Cleomar Machado), se percam algumas passagens de nossa história que, a meu jeito, na medida de minhas possibilidades e dos pequenos recursos, procuro reduzir nestas memórias que deixo através deste BLOG.

Confesso que a maior parte dessas "baboseiras", antes de trasladá-las para os arquivos virtuais do computador, eu já as rabisquei nos borradores e babilaques, ou seja, cópias de segurança no original, que vou acumulando em arquivos físicos, tudo bem catalogado e em ordem alfabética, o que, também, constituindo-se em provas documentais, pode caracterizar sinais evidentes de minha doidice, loucura ou demência.

E é assim que, enquanto vou escrevendo minhas patacoadas, que é minha compulsão, mania, ou extravagância (como afirmam os daqui de casa!) quem quiser ler os meus escritos que os leia – democraticamente - e aqueles que o não desejarem ou acharem trabalhoso ou inútil acessar, via do meu blog, eu posso asseverar-lhes de que não me estão concedendo qualquer favor, causando-me prejuízos de qualquer natureza e nem mesmo haverão de causar-me desgosto, pois olhe que nem mesmo vou ficar sabendo suas razões em me desprezar, a não ser sobre aqueles que de fato forem mais à toa, ou caridosos, ou sinceros, ou ciosos da perfeição, ou assumidos como paladinos da boa escrita e/ou da correção gramatical, se assim dignarem de apontar-me onde esteja eu em conflito com a técnica da prosódia, da morfologia, da ortoépia, da sintaxe ou dessa atual ortografia da literatura nacional, estes aos quais acatarei de muito bom grado e admiração.

Digo tudo isto, justificando-me perante alguns leitores que me dão a honra do feedback, para renovar o meu desejo de sempre buscar o acerto, o escrever com o máximo de correção, o não ser prolixo, o redigir com coesão e objetividade, o ser jovial e respeitoso com as pessoas de bem mas voltando a informar, como já afirmei, que por mais firme o esforço, enorme o compromisso de acertar - maior em mim é a carência das letras, que infelizmente são poucas.

Peço a todos, portanto, a bondade e o raio da caridade (como dizia outro mestre, o meu padrinho Gentil Rei), reiterando-lhes, a todos esses bons amigos, o meu sincero pedido de me ajudarem a aprender a escrever, corrigindo-me sempre que for preciso, mandando-me críticas e aconselhamentos, além de suas lições, novos textos e relatos interessantes, pela simples razão de que não consigo ficar um só minuto sem praticar este vício, esse defeito terrível que de mim se apoderou, que é difícil de ser curado estando eu nesta altura de minha vida, pois se sabe que todo vício é uma doença, mesmo diante da experiência de quem já tenha conseguido se livrar de tantos outros, como o de fumar (cigarros caretas!) e o de beber cachaça (apenas as cotreias!), graves costumes dos quais ninguém, no devido tempo e vis-à-vis, me censurava.

Depois que contraí esse novo vício, substituindo os demais não menos saudáveis, garanto-lhe que, quando estou escrevendo, não tenho fome, não me incomoda o barulho das ruas ou o avanço das horas e confesso que o meu maior prazer é colocar no papel, ou no blog, tudo que me vem à cabeça em formato de ideias sobre gentes e coisas, desde que o que eu escreva não prejudique as pessoas, seus direitos e seus interesses ou, se for preciso, meu pensamento tenha que se transformar em veneno perigoso e vá atingir os brios ou a sensibilidade de quem não presta, neste caso assumindo a responsabilidade e a firmeza de quem sabe o que está sendo escrito. É bem verdade que faço o maior esforço para escrever direitinho, tudo de acordo com o que manda o Livrinho de Seu Ulisses Guimarães, também o da Santa Madre Igreja (conforme aprendi no catecismo de Seu Levy Maria de São Geraldo) e, principalmente, com o que restou do beabá que aprendi lá no Zé Bento, nas inesquecíveis lições da minha saudosa mestra Dona Maria Lopes, esses mestres alígeros, amigos que o Santo Deus os tenha, e os conserve todos eles, como seus eternos discípulos em sua Divina Glória, Assim Seja! Amém...

E olhe que este exercício se torna cada vez mais difícil para mim, que em termos de escolaridade, tive a ventura de me ilustrar tão-somente até o grau do ginásio do Dr. Agostinho da Silva Silveira, o insubstituível Dr. Funcho, naquele tempo em que se aprendiam, entre tantas sabedorias - hoje descartadas, por superadas e supérfluas - apenas inutilidades como a História Geral (do Souto Maior e do Prof. Álvaro Freire) das Religiões (de Tabajara Pedroso e do Mestre José Gomes da Silva), dos Rudimentos do Latim (de Pvblius Pompilius e do Prof. Urias Sena), além da prática de boas maneiras e generalidades no exemplo de mestras da têmpera de Dona Myriam e Dona Elisinha Borges, cujos modelos, pela perfeição e raridade, já não se usam mais em nossas modernas escolas. (Deo Gratias!).

Contudo, mesmo que hoje o próprio computador me ajude, no adjutório tecnológico, mecanizado ou eletrônico, que é esse incrível sistema de revisão automática de nossa bela gramática, é quase certo que, contrariando a mídia, a lógica e a minha própria vontade, muita agressão ao vernáculo eu venha cometendo, involuntariamente, durante toda essa arriscada empreitada que resolvi assumir, que é a de editar um BLOG, enfrentando com ele todos os riscos, ônus, críticas e incompreensões, que são as motivações mundanas. Garanto, porém, que nunca tive a pretensão de ser ghost-writer, copy-desk, jornalista, escritor, poeta, lexicólogo, gramático, contista, noveleiro ou qualquer outro tipo de escriba a não ser justamente este com o exercício deste múnus, qual seja o cumprimento de uma grave tarefa que me foi conferida por aqueles mestres, aos quais obedeço fielmente, renovando-me a cada postagem como titular efetivo de resenhas fanadeiras ou, se preferirem, como "escrevente não-juramentado dos causos que me vêm à telha" e, neste mister, ofício ou desiderato, dou-me muito por satisfeito.

Obrigado e até amanhã!

PREFÁCIO - MURILO DE MELO FILHO (da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS)

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A partir da próxima edição todo o texto será publicado, cada dia uma parte, para você conhecer esta importante contribuição de C ARLOS MOTA sobre a cultura de nosso histórico município de Minas Novas.

Na medida do possível serão divulgados outros assuntos, relacionados a nossa terra, dando-lhe notícias sobre o dia-a-dia daquela boa gente fanadeira, divulgando nossa arte, nosso folclore e nossa cultura popular.

Teremos, também, espaços para a divulgação de outros livros, já publicados ou inéditos, jornais, revistas e fatos com abordagens no interesse geral de nossa região.




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